segunda-feira, 1 de março de 2010

A verdadeira religião

Um dia, uma macaca andava a repetir por toda a floresta que apenas a sua religião era verdadeira. Encontrou-se com um gibão, que provinha de uma raça oriental e desconhecida, e começaram os dois a discutir animadamente.
A macaca insistia: - A minha religião é a única realmente verdadeira.
O gibão, vindo lá dos lados do oriente, chamou-lhe mentirosa. Mas a macaca, com ares de integralista, repetia: - Não, a tua religião não pode ser verdadeira como a minha. Não podem existir duas verdades: por conseguinte, a tua é falsa!
O gibão, que tinha sido educado à tolerância e ao respeito pelas crenças dos outros, não suportava os arrogantes e os muito seguros das suas certezas. Parecia-lhe que era absurdo desprezar a religião do outro, para exaltar a própria.
E repetia à macaca: - Estás a pisar com superficialidade e arrogância um caminho feito por milhões de pessoas ao longo de muitos séculos. O caminho espiritual dos meus antepassados orientais é muito elevado e talvez mais antigo que o da tua tradição. Porque ofendes as pessoas que o seguem?
A sua animada discussão foi interrompida por um velho chimpanzé que estava a rezar diante de uma grande bananeira. Aproximou-se e entrou também ele na discussão teológica acerca da única e verdadeira religião. Disse: - Como sois tontos! O verdadeiro Deus é grande e misericordioso, precisamente como o meu. Ele concede-me os seus frutos e faz-me repousar à sombra das suas folhas.
Estavam assim ocupados a discutir animadamente, quando notaram que havia um grande incêndio a aproximar-se deles e a ameaçar as suas vidas. Quando se deram conta do perigo, o espanto foi tão grande que, acabadas as discussões, procuraram todos salvar a pele. A macaca e o gibão treparam apressadamente para uma árvore e depois lançaram uma corda ao velho chimpanzé. Assim também ele conseguiu subir para a árvore e depois, ajudando-se uns aos outros, conseguiram fugir os três da floresta em chamas. Logo que se sentiram seguros, os três reflectiram acerca da experiência. A solidariedade demonstrada no momento do perigo, para além das divergências em questões de religião, convenceu-os de que era possível chegar a acordo acerca de factos, em vez de se agarrarem a princípios. Cada qual pediu perdão por cada palavra pronunciada com menos respeito pelos outros.
Quando chegou o momento de se separarem, a macaca disse: - Temos de nos juntar mais vezes, para nos ajudarmos uns aos outros. Assim, amando-nos mutuamente, caminharemos juntos para a verdade.
(Adaptado de Sérgio Bocchini)