sexta-feira, 25 de junho de 2010

Porque é que a Igreja baptiza as crianças?

Porque é que a Igreja insiste em baptizar as crianças pouco tempo depois de elas nascerem? Não será isto um atentado contra a sua liberdade? E se mais tarde não quiserem seguir a religião Católica? Não será muito mais sensato esperar que cresçam e nessa altura escolham livremente a religião que desejam praticar?
São muito comuns, nos dias de hoje, estas perguntas. E não somente as perguntas. Também está a tornar-se comum – infelizmente – atrasar o baptismo com o argumento de que é preciso respeitar a liberdade das crianças. Com essa mesma “lógica”, os pais não deveriam escolher arbitrariamente um nome para os seus filhos – seria mais respeitador da sua liberdade que mais tarde os próprios escolhessem. Também seria contra a liberdade dos filhos obrigá-los a ir à escola, a arrumar o quarto ou, em geral, a portarem-se bem. Quem são os pais para imporem aos seus filhos aquilo que consideram que é o bem ou o mal? Não será que essa atitude pode gerar-lhes traumas na infância que dificultarão o exercício da sua liberdade sem nenhum tipo de limites?
Que tal, neste momento, pormos os pontos nos ii? O problema de fundo não é o baptismo nem a liberdade. O problema de fundo é a falta de fé de alguns pais no que significa para o seu filho ser baptizado. Actualmente, vê-se muitas vezes o baptismo como uma simples festa de apresentação aos familiares e amigos da criança que acaba de nascer. Dá-se mais importância a aspectos exteriores como a escolha “cuidadosa” dos padrinhos – não com a finalidade de que saibam zelar pela fé do afilhado, mas com o “critério” de que sejam pessoas amigas que não se esqueçam de dar presentes nos momentos oportunos.
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica diz-nos que é precisamente o desejo de que os filhos sejam livres que leva os pais a pedirem o baptismo pouco depois de eles nascerem. Pergunta nº 258: “Porque é que a Igreja baptiza as crianças?”. Resposta: “Porque tendo nascido com o pecado original, elas têm necessidade de ser libertadas do poder do Maligno e de ser transferidas para o reino da liberdade dos filhos de Deus”.
Se uma pessoa possui de verdade a fé católica – ou seja, se acredita naquilo que nos disse Nosso Senhor Jesus Cristo – sabe que todos nascemos com uma doença espiritual que se chama pecado original. Também sabe que essa doença tem cura – uma cura infalível que é o baptismo. Também sabe que essa cura não foi “inventada” pela Igreja, mas foi instituída por Jesus Cristo, que, com a sua morte na Cruz, nos alcançou a libertação do pecado e a gloriosa liberdade de filhos de Deus. Também sabe que o baptismo é necessário para a salvação porque assim o disse, sem papas na língua, o próprio Jesus: “Quem crer e for baptizado será salvo; mas quem não crer, será condenado” (Mc 16, 15).
Resumindo: o problema dos atrasos no baptismo não está tanto no respeito pela liberdade das crianças, mas sim na falta de fé de muitos pais que se “esquecem” da importância que possui este sacramento para a salvação dos seus filhos.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sétimo Encontro: Maria, a Serva do Senhor

1. RELEVO DE NOSSA SENHORA NA DEVOÇÃO POPULAR
Nossa Senhora ocupa um lugar muito importante na vida da Igreja e no coração dos discípulos de Jesus. Ao longo do ano Litúrgico muitas festas são dedicadas a Nossa Senhora: Anunciação a 25 de Março; Assunção a 15 de Agosto; Natividade a 8 de Setembro; Imaculada Conceição a 8 de Dezembro; Santa Maria Mãe de Deus a 1 de Janeiro. E muitas outras liturgicamente menos importantes.
Não só na liturgia oficial da Igreja. Também na devoção popular. Nossa Senhora ocupa um lugar de grande relevo. É profunda, entre as pessoas simples, a veneração e a confiança na intercessão de Nossa Senhora. As festas e peregrinações movimentam ainda hoje muita gente. Muitos católicos parecem chegar mais facilmente a Jesus Cristo e a Deus através da Virgem Maria.
A devoção a Nossa senhora aparece, portanto, profundamente associada à vida cristã, tendo deixado, na história do cristianismo, fortes marcas exteriores: Igrejas, ermidas e festas; orações e narrações de factos miraculosos conservados na memória do povo; valiosas obras de arte motivadas por Nossa Senhora, etc.
Encontramos também na devoção popular algumas formas desviadas: revelações privadas consideradas, por vezes, mais importantes que a Revelação bíblica; sentimentalismo superficial e procura fácil do milagre, etc.

2. MARIA NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA
O Concelho Vaticano II alerta que «a verdadeira devoção a Nossa senhora não consiste na emoção estéril e passageira mas nasce da fé que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a Nossa Mãe e a imitar as suas virtudes» (LG 67).
Vamos pois reflectir o que a fé cristã, nas suas fontes bíblicas e do magistério eclesial, nos indica sobre o lugar de Nossa Senhora na vida cristã.

2.1. Participação de Nossa Senhora na vida e missão de Jesus
Os evangelhos de São Lucas e de São João manifestam a íntima ligação de Nossa Senhora com a vida e missão de Jesus Cristo e com a vida dos crentes.
Ao narrar a infância de Jesus, São Lucas mostra a presença de Maria nos episódios marcantes da vida oculta de Jesus de Nazaré, em que se desvenda já o seu Mistério: Anunciação; Visitação; Nascimento; Apresentação no Templo; Perda e encontro em Jerusalém.
São João, por sua vez, mostra Nossa Senhora profundamente associada à «hora» de Jesus: início da vida pública e momento supremo da redenção em que Maria é entregue como Mãe ao discípulo que representa todos os que hão-de acreditar n’Ele.
A participação nos acontecimentos importantes da vida de Jesus engloba também o momento da glorificação e o do nascimento da Igreja no dia de Pentecostes. Nossa senhora participa realmente na vitória de Jesus sobre o pecado e sobre a morte (a glorificação na Ressurreição e Ascensão) através da Assunção ao Céu; e está presente no Pentecostes como Mãe espiritual de todos os crentes.

2.2. Maria Nossa Mãe
Esta associação de Nossa Senhora à vida e à missão de Jesus continua ainda hoje. «A maternidade de Maria na economia da graça perdura. Elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra até chegarem à pátria bem-aventurada» (LG 62)
Solidária com o género humano, de quem é ilustra membro, e associada à Redenção de Jesus, Nossa Senhora ocupa, portanto, um lugar de primeira importância na vida cristã. Ela é nossa Mãe na ordem da graça, atenta ao nosso caminho para Deus, preocupada com a nossa salvação (cfr. LG 53).
Mãe do Redentor ela é, portanto, nossa Mãe: «é verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis» (LG 53).
Nossa Senhora é Mãe de Jesus, não apenas no sentido biológico ou físico, mas também no sentido espiritual, na ordem da graça. Quando uma mulher do povo, que ouvia a pregação de Jesus, exclamou: «Feliz o seio que Te trouxe e os peitos que Te amamentaram», exaltando assim a maternidade biológica de Maria, Jesus acrescentou: «felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática». Desta forma indica que a grandeza da sua Mãe se fundamentava também na fé: Ela escutou atentamente a Palavra do Senhor, guardando-a e meditando-a no seu coração para compreender o seu sentido profundo, e dispôs-se a colaborar humildemente com o desígnio de Deus «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra». Assim, o reconhece a sua prima Isabel na Visitação: «Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» (cfr. Lc 8,19-21; 2, 13; 1, 38 e 45).

3. NOSSA SENHORA CATECISMO VIVO DA VIDA CRISTÃ
Vimos, na Sagrada Escritura e no magistério da Igreja, que a grandeza de Nossa Senhor assenta na sua profunda ligação à Redenção de Jesus. Concluímos, assim, que o lugar importante de Nossa Senhora nasce da fé e não apenas do sentimento.
Como manifestar, pois, a veneração a Nossa Senhora? Como dar a Nossa Senhora o lugar que ela merece na nossa prática religiosa?
O Concílio, atrás referido, conclui que a fé nos incita a amar filialmente a nossa Mãe e a imitar as suas virtudes.

Como concretizar o amor filial a Nossa Senhora?
a) Recorrendo a Ela, entregando-nos ao Seu cuidado materno através da oração. Esta confiança na protecção de Nossa Senhora tem sido constante ao longo das gerações e ainda hoje deve caracterizar todos os discípulos de Jesus. Vem desde o séc. VI esta bela oração a manifestar a confiança na ajuda materna de Maria: «À vossa protecção recorremos, ó Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos ó Virgem gloriosa e bendita».
Algumas formas de oração a Nossa Senhora tornaram-se muito populares. Entre elas merece especial destaque o Rosário (terço), chamado o breviário do povo, continuamente recomendado pela Igreja como oração da família. Recitado como oração familiar ajuda realmente a orientar para o Senhor a vida do lar. Ao longo das dezenas do Rosário pedimos a intercessão de Nossa Senhora e, na sua companhia, aprendemos a meditar os mistérios de Jesus (acontecimentos principais da vida de Jesus que manifestam o mistério da Sua pessoa).

Como e quando rezar a Nossa Senhora?
b) O amor filial à Virgem não pode limitar-se a pedir a sua intercessão. Deve manifestar-se também na imitação das suas virtudes. Ela é a Serva do Senhor que nos apresenta Jesus como luz e salvação e que nos orienta para Jesus. Nossa Senhora foi realmente a primeira e mais perfeita discípula de Jesus. Ensina-nos, não apenas com doutrina, mas com os exemplos concretos da sua vida. O Papa Paulo VI chamou-a «catecismo vivo» onde podemos aprender na prática como deve ser o discípulo de Jesus.

Que atitudes cristãs mais importantes podemos aprender com Nossa Senhora?
- Ensina-nos, antes, de mais a escutar a Palavra do Senhor e a guardá-la no coração.
Maria realmente escutou e compreendeu a mensagem da Anunciação. Continuou a escutar os vários personagens que aparecem na infância de Jesus. Escutou depois a Palavra do Senhor. Escutava e guardava no coração procurando compreender e aprofundar.
A devoção à Mãe do Céu orienta-se, assim, a escutar a Palavra de Deus, a meditá-la no coração e a aprofundá-la cada vez mais.
- Ensina-nos também a colaborar na realização do plano de Deus. Ela mostrou-se disponível e obediente. Apresentou-se como Serva humilde colocando a sua vida ao serviço do plano divino.
Seguir o seu exemplo é participar também no apostolado da Igreja para que a salvação de Cristo se estenda ao mundo.
A devoção a Nossa Senhora conduz-nos portanto a Jesus: incentiva-nos a segui-Lo e integra-nos na Igreja.
Maria resume a esperança do Antigo Testamento e da Igreja – Ela é chamada a estrela da Manhã: «Assim como esta estrela, conjuntamente com a Aurora, precede o nascer do sol, assim também Maria, desde a sua Conceição imaculada, precedeu na história do género humano, a vinda do Salvador, o nascer do Sol da Justiça» (RM 3).
Aprendamos, portanto, com ela a esperar e a preparar a vinda do Senhor, «Sol que ilumina todo o homem que vem a este mundo».
A. Marto - M. Pelino