quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Décimo encontro: Deus fala pela Sagrada Escritura

1. A BÍBLIA: UM LIVRO COM HISTÓRIAS ANTIGAS OU COM MENSAGEM ACTUAL
A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo. Católicos, protestantes e ortodoxos encontram aqui a Palavra de Deus normativa da sua fé. Muitas pessoas, mesmo não crentes, apreciam a riqueza literárias e moral deste livro sagrado.
No entanto, muitos conservam a Bíblia apenas na estante, sempre nova devido á falta de uso. Compraram-na, talvez ainda tentassem lê-la, mas depois desanimaram devido à linguagem difícil e estranha.
Ao longo das catequeses que temos vindo a fazer procurámos contactar de perto com este livro maravilhoso.
Que frutos colhemos deste contacto? No teu meio a Bíblia tem significado e interesse para os católicos? Em que o notas? Qual a razão?
Certamente não é um livro muito fácil. Narra o desígnio misterioso de Deus de salvar os homens e nem sempre a linguagem comum é adequada para exprimir estas realidades da fé. Daí o emprego frequente de imagens e símbolos por vezes estranhos à nossa mentalidade.
Por outro lado, narra acontecimentos da história da Salvação decorridos em épocas e culturas muito diferentes das nossas. No tempo de Abraão, de Moisés ou de Isaías a maneira de pensar, de viver e de se exprimir era muito diversa da nossa. Assim torna-se necessária uma preparação própria para entender a Sagrada escritura.
Os comentários ou explicações que temos feito nestes encontros contribuíram para uma melhor compreensão da Bíblia? Que aspectos novos descobrimos?
Neste momento conhecemos já bastantes acontecimentos e personagens da Sagrada escritura. É, portanto, a altura própria para procurarmos alcançar uma visão de conjunto da Bíblia de modo a compreendermos melhor os seus géneros literários e a podermos situar no contexto próprio cada um dos seus livros.
Neste sentido, vamos dedicar os próximos encontros a um estudo mais profundo da Bíblia. Para podermos acompanhar melhor esta reflexão devemos ler em casa a introdução que vem no início da Bíblia e trazê-la sempre connosco para os encontros.

2. A BÍBLIA MENSAGEM DE DEUS AOS HOMENS

2.1. A Bíblia narra a Aliança entre Deus e os homens

A Bíblia conta a história da Aliança entre Deus e os homens. A aliança é a realidade de fundo de toda a Bíblia que se desenvolve e aperfeiçoa continuamente até Jesus Cristo. Assim a Bíblia apresenta-se em duas grandes partes: A antiga Aliança e a nova Aliança (também se diz «Testamento» para indicar que é a disposição definitiva de Deus a respeito dos homens).
A Bíblia narra a iniciativa ou disposição da parte de Deus de estabelecer com os homens um relacionamento de amizade mútua. É o que significa Aliança ou Testamento. Tendo criado o homem para viver em comunhão com Ele, Deus dotou-o de liberdade permitindo-lhe aceitar ou recusar este destino. Quando o homem, pelo pecado, se afasta da comunhão com Deus. Este não o abandona mas vai ao seu encontro chamando-o de novo à amizade com Ele. É a história da Aliança.
Ao longo das catequeses reflectimos já nalgumas etapas da Aliança: com Abraão a que, Deus promete a bênção, um país e uma numerosa descendência; com Moisés a quem Deus chama a libertar o povo do Egipto estabelecendo depois, por seu intermédio, um tratado de protecção a Israel, indicando ao povo um estilo de vida (a lei da Aliança); com os profetas interiorizando a Aliança e prometendo uma nova Aliança. Finalmente através de Jesus Cristo que realizou a promessa da nova e eterna Aliança.
Podemos acompanhar este desenvolvimento da Aliança ao longo da Bíblia consultando algumas passagens significativas:

Abraão (Gn 15:1-6; 18)
Moisés (Ex 19:1-8)
Jeremias (Jer 31:31-34)
Jesus Cristo (Mt 26:26-29)

2.2 A Palavra de Deus em palavra humana
A palavra Bíblia significa «livros». Realmente, a Bíblia é uma colecção de livros, escritos em épocas diferentes e em estilos diversos. Ao todo 73 livros (46 do Antigo e 27 do Novo Testamento).
Já abordámos algumas das épocas da história da Salvação narrada nos diferentes livros da Bíblia: Patriarcas; Êxodo; posse da Terra Prometida; Juízes; Reis; desterro; regresso a Jerusalém e época do Judaísmo.
Tendo em conta os diferentes géneros literários, podemos agrupar os livros do Antigo Testamento em três secções: Históricos; Sapienciais ou Didácticos e Proféticos.
Vamos analisar cada uma destas secções:

A – Livros históricos
Apresentam uma visão teológica da história, discernindo o projecto de Salvação de Deus na história de Israel. Na fidelidade ou no pecado do povo, Deus intervém encaminhando a história para Salvação (Ler Juízes 2:11-19).
Esta secção engloba o Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia atribuídos a Moisés) e outros dezasseis livros que narram a história do povo israelita.
O Pentateuco ou livro da «Lei» (em aramaico TORAH) é o mais importante desta secção. Frequentemente, aparece o convite a meditá-lo: «Quanto amo Senhor a vossa Lei, nela medito durante todo o dia». (Salmo 119:97). «Nela meditarás quer estando sentado em casa, quer andando pelos caminhos, quando te deitas e quando te levantas» (Dt 6:7).

B – Livros Sapienciais
São sete livros que exprimem a sabedoria do povo que se conduz pelos caminhos de Deus. Estão redigidos em forma de provérbios, hinos, cânticos e orações.
O livro mais conhecido desta secção é o dos Salmos que contém 150 orações de uma grande riqueza espiritual. Manifestam uma profunda experiência de fé que se mantém actual e paradigmática em todos os tempos. Apresentam-se em forma de louvor (Sl 103; ou de arrependimento (Sl 50); de súplica (Sl 86); ou de acção de graças (Sl 100).

C – Livros Proféticos
São compostos por escritos dos profetas. Estes são conhecidos por profetas maiores – aqueles cujos escritos são mais extensos: Isáias, Jeremias, Ezequiel e Daniel – e profetas menores, cujos escritos são menos extensos, em número de catorze.

3. PALAVRA DE DEUS VIVA E ACTUAL

Os livros do Antigo Testamento foram escritos pouco ao longo de 10 séculos aproximadamente. Inicialmente, a história e as leis do Povo de Israel passavam de boca em boca – era a transmissão ou tradição oral. No reino de Salomão, com o desenvolvimento da literatura, começaram a redigir-se as tradições orais. Assim se compreende a grande variedade de géneros literários existentes na Bíblia desde: história; leis; crónicas; poesia; cânticos; provérbios; e até novelas com significado teológico (por exemplo a vida de Jonas)
No entanto, a Bíblia no Antigo Testamento não narra apenas a história passada do povo israelita. Por detrás dos acontecimentos históricos apresenta-nos a interpretação do desígnio de Deus. É a história da Salvação que se realiza na história do povo eleito. A Bíblia apresenta-nos realmente a Palavra de Deus revestida em géneros literários diferentes, em palavra humana de cada época.
Assim o conhecimento do contexto histórico é importante para compreender o sentido de cada livro. Mas não é suficiente. A partir do contexto histórico devemos depois aplicar ao presente ara descobrir a Palavra de Deus sempre viva e actual.
A. Marto - M. Pelino

Nono encontro: Deus manifesta-se através de sinais

1. DEUS REVELADO E ESCONDIDO

No encontro anterior verificámos a humildade e discrição do nascimento de Jesus. As pessoas importantes do seu país não tomam conhecimento do facto. São os pobres, como os pastores, que O vão visitar.
Ainda hoje Jesus é ignorado por muita gente. Mesmo na celebração do Seu nascimento, pelo Natal, Jesus parece ausente ou então motivo de segunda importância para as festas sociais e para as prendas.
Este facto coloca-nos uma questão: Deus mostra-se às pessoas, dá-se a conhecer, ou permanece oculto? Manifesta-se de modo visível ou é um Deus escondido? Como se apresenta?
A nossa época valoriza muito os meios «audiovisuais» – o que se vê, o que se apregoa. Os conhecimentos baseiam-se no que se observa e no que se experimenta. Ora Deus é invisível e transcendente.
Haverá sinais visíveis que O manifestam? Haverá «pegadas» da presença de Deus?
Neste encontro vamos reflectir na resposta da Sagrada Escritura, sobretudo do Novo testamento, a esta questão. Tendo em conta os sinais de Deus referidos na Sagrada escritura podemos descobrir também o modo como Deus se manifesta hoje s nossos olhos.

2. JESUS MANIFESTA-SE ATRAVÉS DE SINAIS

2.1. Jesus manifesta-se de modo discreto

O tempo da epifania, que celebramos logo após o Natal, ajuda-nos a esclarecer esta questão. «Epifania» quer dizer «manifestação». Jesus realmente não quis permanecer ignorado: deu-se a conhecer. Tendo nascido pobre e escondido Ele manifestou-se: - aos pastores, através dos anjos que lhes deram um sinal de identificação (Lc 2, 12). - aos magos, através de um sinal no Universo (um astro que lhes anunciou o nascimento de Jesus). - aos Judeus, no Baptismo e na vida pública, mostrando que vinha realizar as profecias. - aos discípulos, em Cana de Galileia e outras ocasiões, realizando sinais que O acreditam como Messias.
Concluímos pois: Jesus nasce pobre e escondido mas dá-se a conhecer, manifestando-se através de sinais, diferentes conforme a sensibilidade, as expectativas e a situação espiritual das pessoas a quem de destinam.
Mas esta manifestação de Jesus não é triunfal: é directa e humilde. Não se impõem mas pede uma resposta livre. Por isso, muitos não O conheceram.

2.2. Jesus manifesta-se de modo adaptado aos destinatários
Procuremos, no modo como Jesus se manifestou, esclarecer como Deus se dá a conhecer ainda hoje. Analisemos de perto três etapas da manifestação (ou Epifania) de Jesus:
a) Aos Magos, Jesus dá-se a conhecer por um astro do firmamento. É hoje aceite por astrólogos e estudiosos de renome que o episódio da estrela de Belém tem um fundamento científico. De facto, segundo os cálculos do célebre astrólogo Kepler, hoje confirmados, por altura do nascimento de Cristo sucedeu um fenómeno astral muito significativo e visível em todo o Mediterrâneo: a conjugação do planeta Júpiter (o astro dos dominadores do mundo) com o Saturno (o planeta protector de Israel) na constelação dos Peixes (o signo dos «tempos finais» ou da era messiânica). A interpretação deste fenómeno astral orientava para o anúncio do nascimento do Messias que devia chegar de Israel.
b) Ao povo de Israel, Jesus manifesta-se pelo cumprimento das profecias. É um aspecto muito realçado pelos primeiros evangelizadores – os apóstolos. Eles apresentam Jesus como Messias a partir do cumprimento das profecias (Lc 24, 27). Será ainda hoje válido este argumento?
c) Aos seus discípulos, e também ao povo que n`Ele acredita. Jesus manifesta-se por sinais. As suas acções e o seu estilo são sinais que revelam o mistério da Sua Pessoa.

3. SINAIS DE DEUS ACTUAIS

3.1. Sinais de Deus hoje visíveis

O Deus invisível e transcendente, para se revelar aos homens e mostrar-lhes o significado da Sua presença e do Seu amor salvador, serve-se de sinais acessíveis, adaptados à condição humana. Através deles «faz sina» aos homens de vários modos: através dos caminhos da natureza, da humanidade, dos acontecimentos históricos e pessoais.

a) Sinais objectivos
. Criação do universo: «os céus proclamam a glória de Deus, o firmamento anuncia as obras das Suas mãos» (Salmo 19).
. Jesus Cristo: a vida e o estilo de Jesus são inexplicáveis, ou mesmo impossíveis, sem Deus. Qual o segredo da Sua originalidade e profundidade, da Sua liberdade e serenidade e sobretudo do Seu amor total ao serviço de Deus e dos homens com preferência pelos mais pobres?
A explicação mais credível é a que Ele próprio, e os que n`Ele crêem, apresentam: vem do Pai, está com o Pai, vive e morre para o Pai.
. Sagrada Escritura: Como poderia surgir este livre maravilhoso com um conteúdo tão elevado sem a intervenção (inspiração) de Deus? Como explicar tantas afirmações, hoje tidas como património universal, mas afirmações, hoje tidas como património universal, mas provenientes da Bíblia e revolucionárias na época e no contexto em que surgiram, tais como: o monoteísmo face ao politeísmo do mundo antigo: o universo criado com ordem e beleza e orientado à perfeição final: a dignidade e responsabilidade de cada homem e de cada mulher face ao determinismo, ao racismo e escravatura das antigas civilizações; a visão ética fundamentada na justiça e na liberdade face aos interesses egoístas, à opressão dos poderosos e à lei do mais forte então vigentes; as profecias do Antigo Testamento realizadas no Novo, como vimos atrás?
. Igreja Católica : Também esta instituição antiga, porventura a mais antiga da humanidade, formada por homens pecadores, não poderia subsistir durante dois milénios, apesar de tantas perseguições do exterior e de tantas divisões de seitas no seu interior, sem a força divina em que acredita estar fundada. A fidelidade firme que conserva às origens, a capacidade de renovação que mostra face às mudanças das civilizações, os frutos que gera de caridade e santidade, de serviço ao homem e conversão pessoal são inexplicáveis sem Deus. A mensagem de Salvação que propõe e na qual acredita, e o compromisso com a transformação do mundo e da humanidade que mostra, são sinais de que continua a missão de Jesus.
. Testemunho de santidade dos cristãos. A vida de muitos cristãos, transformada pela graça, manifesta também a presença de Deus. Assim o confessava um filósofo convertido: «Os encontros (com os cristãos) tiveram uma função capital na minha vida… conheci pessoas nas quais senti a realidade de Cristo de modo tão vivo que não me foi permitido duvidar» (Gabriel Marcel).

b) Sinais na vida de cada um. Santo Agostinho, depois de convertido, recorda a vida passada e reconhece o rosto, suave mas perceptível, da presença de Deus. Um dia, ainda desorientado no pecado, sentiu um convite interior misterioso «toma e lê». Pegou o Novo Testamento e leu as palavras que foram a chicotada decisiva: «Não vos deixeis conduzir pela carne e pelas suas concupiscências».
Confessa depois: «Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova. Tarde Vos amei! Vós estáveis dentro de mim mas eu estava fora, e fora de mim Vos procurava; com o meu espírito deformado, precipitava-me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Clamastes, chamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandescestes e dissipastes a minha cegueira…» Só depois da conversão este santo encontrou a paz do coração que debalde tinha procurado nos afectos terrenos, e concluiu: «Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não tem paz enquanto não repousa em Ti».

3.2. Deus dá-se a conhecer a quem O procura
Deus manifesta-se de modo discreto e humilde e não de modo triunfal. Não apresenta provas evidentes mas oferece sinais. Os sinais são visíveis, orientam e indicam o caminho mas não provam. A fé é sempre uma decisão livre. Como dizia Blaise Pascal: «Há suficiente luz para quem quiser acreditar e há suficiente escuridão para quem não quer crer». Na verdade, quem acredita encontra sempre razões suficientes para acreditar. E quem não acredita também encontra razões para justificar a incredulidade.
Assim Deus permanece um mistério escondido, que procuramos às apalpadelas, e ao mesmo tempo dá-se a conhecer por sinais. Na medida em que procuramos a Sua face Ele dá-se a conhecer: «O Senhor está convosco, assim como vós estais com Ele. Se vós O procurardes, encontrá-Lo-eis, mas se vós O abandonardes, Ele abandonar-vos-á» (2 Cron 15:2).
Como afirma Messori: «Só um Deus escondido é que pode instaurar com os homens uma relação de liberdade e não de necessidade».
A. Marto - M. Pelino

Oitavo encontro: Jesus Cristo Messias esperado

1. ESPERANÇA DE SALVAÇÃO

O Natal é uma festa com um significado humano muito rico a que as pessoas dão muita importância. Que significa o Natal para o comum das Pessoas?
Estes valores humanos revelam expectativas profundas de todas as pessoas.
Então porque não fazer Natal todos os dias, ou seja, porque não viver permanentemente estes valores?
Os homens desejam e procuram a salvação. O desejo de amor, de paz, de luz, de encontro, mostra a esperança de salvação. Por outro lado, as pessoas mostram-se incapazes de alcançar a salvação pelos seus próprios meios. Precisam de um salvador que as venha libertar dos seus impedimentos frutos do pecado.
Esta é a constatação e a esperança que percorre o Antigo Testamento, como temos vindo a reflectir.
Esse período da história da Salvação é atravessado pela expectativa da intervenção de Deus que há-de, no futuro, ajudar os homens a encontrar caminhos de paz, de fraternidade. Deus promete, através dos patriarcas e dos profetas, que há-de enviar o Seu Ungido a trazer a Paz e a salvação a todos os homens.

2. JESUS CRISTO REALIZA AS PROMESSAS DO ANTIGO TESTAMENTO

2.1 A vinda de Jesus realiza as profecias do Antigo Testamento
O Antigo Testamento aparece como um movimento de esperança orientado para um acontecimento que há-de transformar os homens e o mundo. Este acontecimento concretiza-se na vinda de um personagem misterioso que há-de surgir da humanidade mais simultaneamente vem de Deus. Como diz Isaías: «Desça o orvalho do alto dos céus e as nuvens chovam o Justo. Abra-se a terra e germine o Salvador» (Is 45:8).
Encontramos muitas profecias do antigo Testamento que se referem a este enviado de Deus que há-de trazer a salvação aos homens. Podemos lembrar duas: Daniel 7:13-14 e Ezequiel 34:11-16; em Daniel vemos a descrição surpreendente dum personagem que vem de Deus, embora semelhante a um ser humano, para realizar o reino eterno e universal. Em Ezequiel é a promessa de que o próprio Deus virá em pessoa cuidar do seu povo, como um pastor cuida do rebanho.
É Jesus Cristo quem realiza estas promessas do Antigo Testamento. A Sua vinda constitui esse acontecimento que marca a história dos homens.
O nascimento de Jesus Cristo veio realmente inaugurar uma nova época. Ele tornou-se membro da humanidade, inseriu-se na nossa vida, caminha connosco. O seu nascimento marcou de tal modo a história que se tornou o seu centro. Nós contamos, na verdade, o tempo a partir do nascimento de Jesus. Quando dizemos 1950 queremos indicar que Jesus nasceu há tantos anos. A história divide-se em «Antes de Cristo» e «Depois de Cristo».

2.2 Jesus Cristo vem na plenitude dos tempos
A vinda de Jesus realiza-se, assim, depois de um longo período de espera e preparação. Ele é, na verdade, o Desejado das nações, o Messias esperado no Antigo Testamento, o Salvador anunciado e preparado pelos Profetas. A história da Salvação, iniciada com Abraão, orienta-se para Jesus. As diversas etapas do Antigo Testamento (revelação a Abraão; Êxodo; aliança do Sinai; instalação em Canaan; exílio e regresso) preparam a vinda de Jesus.
Deste modo podemos compreender muitas expressões do Novo Testamento que se referem à plenitude dos tempos, como por exemplo: «Ao chegar a plenitude dos tempos Deus enviou o Seu filho, nascido da mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei» (Gal 4:4-5).
Que significa plenitude da Lei? Refere-se às etapas de preparação percorridas no Antigo Testamento. Jesus veio na plenitude dos tempos e trouxe a plenitude da graça e da verdade, (Jo 1:14) ultrapassando o período da Lei (Antigo Testamento): «A Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo» (Jo 1:17). Com Ele tornou-se definitiva a Revelação (Heb 11:1).
Ao inserir-se na história humana, ao fazer-se homem com nós, Jesus Cristo transformou realmente a condição humana, iluminando os homens com a Sua luz divina, oferecendo-nos a Sua própria Vida, tornando-se o Caminho, a Verdade e a Vida. «Da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça» (Jo 1:16).

2.3 Jesus Cristo vem trazer-nos a salvação de Deus.
As expectativas de salvação, que analisamos no início do encontro, ajudam-nos a compreender o significado de Jesus Cristo para todos os homens: Ele vem trazer a Luz e a Vida, a Paz e o Amor. Ele pode, portanto, tornar possíveis as expectativas que vêm ao de cima na quadra natalícia. Ele pode dar corpo e realização ao sonho de um mundo novo de Paz e de Amor. Assim compreendemos a mensagem de Natal dada pelos anjos aos pastores de Belém: «Anuncio-vos uma grande alegria que o será para todos o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador que é Messias Senhor» (Lc 2:10-11).

2.4 Jesus Cristo torna Deus presente entre nós.
Jesus Cristo não vem apenas dar resposta aos nossos anseios humanos. A salvação que Ele nos oferece ultrapassa as nossas expectativas. Os caminhos de salvação que Ele nos propõe fogem aos nossos esquemas; o Seu nascimento e a Sua vida constituem para nós um mistério, representam uma novidade em relação a tudo o que podíamos prever.
Como se explica que Jesus traga assim uma tal riqueza e novidade à história humana? Explica-se pela sua condição: «N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens… O Verbo era a luz verdadeira» (Jo 1:4). Jesus era de condição divina: «Deus enviou o Seu Filho». Por isso, tinha a plenitude da perfeição.

No entanto apresentou-se como homem humilde, simples e pobre. «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória, glória que lhe vem do Pai como Filho único».
Este mistério de Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus como o Pai, que veio até nós em figura humana, é o acontecimento que celebramos no Natal. Ele desceu até nós para caminhar connosco e nos elevar até Deus. Fez-se pobre para nos enriquecer (2 Cor 8:9). Fez-se homem para dignificar a humanidade e aproximar-nos de Deus (Ler Jo 1:16-18).
É portanto, em Jesus Cristo que a história encontra sentido e dignidade. Assim, a nossa preocupação deve ser a de restaurar tudo em Cristo: «reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas que há no céu e na terra» (Ef 1:10). Ele é o Alfa e o Ómega, o princípio e fim de toda a história. (Cf Ap 22:12-13).

3. CELEBRAÇÃO LITÚRGICA DO NATAL

3.1 O Natal é preparado pelo Advento

A celebração do nascimento de Jesus no Natal é precedida de um tempo litúrgico em que se revive a esperança e a preparação do Antigo Testamento para a vinda de Jesus. É o tempo do Advento, constituído por quatro semanas. Esta quadra do Advento procura despertar em nós o desejo da vinda de Jesus e preparar o nosso coração para O escolher. Apresenta-nos algumas figuras do Antigo Testamento que nos convidam e ajudam a preparar a vinda de Jesus. Ocupa um lugar de relevo o profeta Isaías que nos anima na esperança «não temais; aí vem o vosso Deus». Aparece, também, João Baptista que nos desafia a preparar os caminhos que levam a Deus. Em terceiro lugar, aparece aquela que colaborou mais de perto na vinda de Jesus: Nossa Senhora.

3.2 O mistério do Natal narrado nos evangelhos
O Nascimento de Jesus não é apenas um acontecimento social. É o Mistério da presença de Deus em forma humana. É a realização do desígnio de Deus de salvar a humanidade. Por isso, a narração deste acontecimento nos evangelhos é muito rica e diferente em cada evangelista. Cada um colhe o Mistério numa perspectiva própria. No conjunto, enriquecem-se umas às outras. Vimos a perspectiva de São Paulo (Carta aos Gálatas e Carta aos Filipenses) e outra, mais teológica, de São João.
A narração mais sugestiva e mais movimentada, e talvez também a mais conhecida, é a de São Lucas. Este evangelista dedicou um relevo especial à infância de Jesus e, por isso, o denominamos «Evangelista da infância». Os diversos acontecimentos que São Lucas narra sobre a infância de Jesus foram resumidos pela piedade cristã em cinco mistérios (cinco episódios em que se manifesta o mistério de Jesus já presente na infância): anunciação; visitação; nascimento; apresentação; perda e encontro de Jesus no templo.
Nas várias e diferentes narrações encontramos sempre referência a duas dimensões do mistério de Jesus: descendência da humanidade e proveniência divina.
A. Marto - M. Pelino

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não há fé sem risco

Qualquer reflexão cristã é um caminho para a liberdade, para Jesus libertador.
Eis o que penso e o que creio: Deus Pai não te criou para seres cristão. Deus Pai não te criou para que O sirvas. Deus não te criou para que lhe rendas culto. Deus criou-te acima de todas as coisas para que sejas homem!
O medo escraviza. A escravatura social, a escravatura mental, a escravatura económica, a escravatura religiosas, a escravatura politica são degradantes e não promovem o progresso do ser humano.
Não existe ser humano sem liberdade. O homem escravo não realiza totalmente o ser homem. Por isso não deixes que te roubem a liberdade.
Qualquer catecismo ou pensamento cristão tem de propor uma caminhada do medo para a confiança, da escravatura para a liberdade plena.
Existem felizmente muitas pessoas sábias que são também crentes, e com medo. Infelizmente, com medo. Um medo que não mata, mas que explica muitas cobardias.
É uma covardia pegada. Uma covardia que impede de dizer em público aquilo que pensam, porque se o disserem vêem a sua posição social (ou laboral) baixar.
Mas há outros também que têm um medo e uma covardia mais assustadores. Não só têm medo aos poderes sociais e religiosos, como também o têm a Deus. Sim, a Deus! E há quem tenha medo de si mesmo, do que pode crer e confiar, de ser livre! Esses nunca respiraram o perfume da liberdade e até há muitos anos que morreram como pessoas! Preferem ter fé sem correr riscos; uma fé calada, amordaçada.
Como se isso fosse possível!
Quem tem medo à novidade não acredita em Deus! Não acredita no Espírito que faz novas todas as coisas. Não acredita no Cristo de ontem, de hoje e de sempre.
Qualquer reflexão cristã é um caminho para a liberdade, para Jesus libertador.

Marcados pelo Espírito

«Fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido.»
(Efésios 1:13)

O Espírito de Deus actua em nós.
O Espírito Santo é selo que nos marca. Marca-nos à imagem do gado ou dos escravos que eram marcados com ferros para que a marca não pudesse ser lavada. O Espírito Santo marca os que lhe pertencem. O Espírito que vive em nós identifica-nos pela sua acção com Cristo. A coerência de vida deve, pois, ser a nossa marca.
Os assinalados são os marcados para serem salvos.
A promessa do Espírito Santo é uma promessa que vem de longe. O Profeta Joel previu que o Senhor derramaria o seu Espírito sobre todos os povos: «Eu derramarei o meu Espírito sobre todos os povos. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e os vossos jovens terão visões. Ainda sobre os meus servos, homens e mulheres, eu derramarei o meu Espírito naqueles dias.» (Joel 2:28-29)
Também Jesus prometeu o Espírito Santo. E em cada dia Deus continua a manter a promessa do Espírito a todos os que recebam Jesus pela fé, a fim de nos garantir a herança de que já participamos.
Jesus ensinou-nos a rezar, dizendo: «Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu.» E é o Espírito Santo quem garante que antecipadamente, já aqui na terra, recebamos a herança prometida. O Espírito Santo em nós faz-nos saborear (experienciar em nossa vida) o que verdadeiramente é o Céu.
O Espírito Santo é o poder de Deus que nos faz perceber e obedecer, sentir e apreciar o que Deus faz por cada um de nós. Pelo Espírito Santo Deus opera na história, Deus continua actuando em favor da humanidade.

Vamos recomeçar

Plano de Encontros de Crisma:


25 Setembro - Re-início dos Encontros.

15 Outubro - Encontro de Crisma.
29 Outubro - Encontro de Crisma.

12 Novembro - Encontro de Crisma.
26 Novembro - Encontro de Crisma.

10 Dezembro - Memória do nosso Baptismo.

14 Janeiro - Encontro de Crisma.
28 Janeiro - Encontro de Crisma.

11 Fevereiro - Encontro de Crisma.
25 Fevereiro - Encontro de Crisma.

11 Março - Encontro de Crisma.
25 Março - Encontro de Crisma.

2-3 Abril - Retiro espiritual.
15 Abril - Encontro de Crisma.

6 Maio - Encontro de Crisma.
20 Maio - Encontro de Crisma.

3 Junho - Encontro de Crisma.
11 Junho - Vigília de Pentecostes.
12 Junho - Pentecostes.