ANSELMO BORGES: Pessoalmente, quais são as maiores preocupações do Padre Alfaro, como teólogo, actualmente?
JUAN ALFARO: Pergunta-me quais são as minhas principais preocupações no meu trabalho teólogo. É uma pergunta, da sua parte, muito simpática, mas à qual devo responder como uma autocrítica de modéstia.
Do que disse em resposta às perguntas precedentes, pôde já ver talvez quais são as minhas preocupações pessoais. Mas quereria indicar ainda como eu vivo a responsabilidade do meu trabalho na teologia.
Preocupa-me muito o problema do cristianismo convencional, isto é, o facto massivo de tantos cristãos cuja fé é demasiado condicionada pelas circunstâncias concretas histórico-sociais e cujo cristianismo, professado sem dúvida por muitos com sinceridade e boa fé, está demasiado longo do cristianismo autêntico. Isto faz-me não só pensar, mas também meditar e sofrer, pensando como voltar ao verdadeiro cristianismo, isto é, como viver hoje a mensagem de Cristo, como chegar, embora sabendo que na Igreja haverá sempre pecados, ao facto que na Igreja se espelhe verdadeiramente o rosto de Cristo. Neste sentido, considero que os escritos do católico francês Marcel Légaut devem ser tomados a sério como um desafio às falhas e fraquezas do nosso cristianismo, embora nestes escritos de Légaut haja imprecisões e lacunas.
Nesta linha, preocupa-me também muito facto enorme as massas operárias não vejam no cristianismo, na sua figura visível que é a Igreja, uma mensagem de justiça e de libertação. A presença da Igreja, precisamente entre os pobres e os marginalizados da sociedade, exactamente aqueles a quem Jesus dirigia a sua mensagem, é muito precária. Pode dizer-se, parece-me que sem exagero, que geralmente o clero e as congregações religiosas não têm uma sensibilidade suficiente para este enorme problema.
in Revista Igreja e Missão I 68 I Julho - Agosto I 1974 I 340-341.
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