sexta-feira, 16 de abril de 2010

Quinto Encontro: Os profetas anunciam um Salvador

1. ACTUALIDADE DA MENSAGEM DOS PROFETAS

Depois de Moisés houve outros profetas.
Moisés morreu antes de entrar na terra Prometida. Sucedeu-lhe Josué na condução do Povo de Deus. Abençoado por Moisés, Josué continua a encontrar na Aliança a base da existência de Israel. A este novo condutor Deus promete também assistência e entrega-lhe a tarefa de introduzir o povo na terra de Canaan, hoje conhecida por Palestina (Ler Josué, 1:2-9).
A entrada neste país é entendida por Israel como o cumprimento das promessas feitas a Abraão (cf. Génesis 17:8) e como continuação da Aliança do Sinai. A terra de Canaan é, para Israel, a terra «onde corre leite e mel» e a «Terra da Promessa». Deus continua assim a intervir na história deste povo orientando-a segundo a Promessa e a Aliança feita com os antepassados.
A residência em Canaan marca um período diferente na história religiosa de Israel. Verifica-se uma mudança de estilo de vida: as tribos nómadas do deserto adquirem agora uma vida sedentária: tornam-se agricultores e pastores com residência estável. Entram, por outro lado, em contacto com outros povos mais evoluídos na agricultura, com o perigo de contágio pelas suas divindades ligadas à fecundidade, talvez mais sedutoras que o Deus invisível que os libertara do Egipto e os conduzira pelo deserto. Será possível manter o monoteísmo em contacto com o politeísmo de Canaan?
Segundo a ordem natural das coisas, atestada pela história das religiões, nestas circunstâncias a crença das tribos seria substituída pelas divindades agrícolas dos povos circundantes. Na realidade, porém, Israel constitui uma excepção mantendo-se fiel ao Deus da sua história.
A fidelidade à aliança não se manteve, porém, isenta de tentações. Frequentemente, o povo se deixa seduzir pelos falsos deuses caindo na idolatria e na infidelidade.
Para chamar o povo à fidelidade à Aliança e o manter na esperança da Salvação, Deus envia-lhe profetas. Durante vários séculos foram os profetas que orientaram o povo de Israel na vida religiosa, transmitindo a Palavra de Deus, lembrando a fidelidade à Aliança e despertando a esperança na vinda de um Salvador.
Precisamos de profetas verdadeiros que anunciem a esperança e a salvação para todos os homens; que proclamam a mensagem evangélica de sempre com roupagem nova e actual; que preguem a verdade mesmo que seja dura, desagradável e desinstaladora; que acreditem num mundo melhor e se comprometam com a sua edificação.
Mas os profetas concretos não são a corporificação dos nossos sonhos de verdade e de paz. São enviados de Deus, proclamam uma mensagem que lhes é confiada, indicam os caminhos de Deus que nem sempre coincidem com os caminhos dos homens. Vamos então descobrir na Sagrada escritura a verdadeira identidade e as tarefas dos profetas e esclarecer como se realiza hoje a missão profética.

2. OS PROFETAS CHAMAM À FIDELIDADE E À ESPERANÇA

2.1. Os profetas transmitem a Palavra de Deus
Os profetas não são bruxos ou visionários. São chamados por Deus para transmitir ao povo a palavra d’ Ele. A mensagem que comunicam não é sua, mas foi-lhes directamente confiada por Deus. São, por isso, os porta-vozes de Deus, os que falam em nome de Deus.
A missão dos profetas vem a seguir a um chamamento pessoal, que os marca profundamente (a vocação) e apoia-se numa intimidade privilegiada com Deus (como Moisés são íntimos de Deus e solidários com o povo). São iluminados pelo Espírito de Deus que lhes concede um conhecimento mais profundo do Seu desígnio de Salvação. Por isso, os profetas vêem mais longe que o comum das pessoas e interpretam a Aliança de uma maneira sempre nova.
Os profetas contribuem para realçar a importância da palavra de Deus na vida de Israel. É a Palavra de Deus que orienta a vida deste povo. Através dela, Deus está presente na história de Israel e dá sentido aos acontecimentos. A Palavra de Deus era guardada e transmitida pela tradição oral. Actualizada pelos profetas, celebrada no culto.
Assim, assistido pela Palavra de Deus e guiado pelos profetas, o povo de Israel mantém a sua fé num Deus único e universal, ultrapassando duas grandes tentações: a do politeísmo e a de uma religião nacional (exclusiva para este povo). Também neste aspecto o povo hebreu é único na história das religiões.

2.2. Os profetas defendem a santidade de Deus e os direitos dos homens
Os profetas são antes de mais defensores dos direitos de Deus. Purificam a verdadeira fé das deformações provenientes da mesquinhez dos homens. Defendem a pureza da Aliança impedindo que seja submetida aos interesses pessoais, sobretudo dos poderosos, ou adaptada às necessidades e esquemas mentais do povo. Nesse sentido, condenam sem tréguas a hipocrisia, a mentira, a injustiça.
A verdade na relação com Deus reflecte-se na verdade da relação com o próximo. O amor a Deus manifesta-se no amor aos homens, na solidariedade com os pobres e oprimidos. Por isso, em nome do amor de Deus, o profeta denuncia a injustiça, a opressão e a infidelidade. Não como revolucionário, mas como testemunha de Deus. Não por interesses pessoais (de lucro ou de carreira) mas baseado na liberdade de testemunha de Deus no mundo.
A defesa da transcendência de Deus conduz os profetas à defesa da dignidade de todos os homens denunciando corajosamente os abusos dos poderosos em relação aos mais desprotegidos: «vendem o justo por dinheiro e o pobre por um para de sandálias» (Amós 2, 6). A aliança com Deus implica uma relação de justiça com o próximo baseada no reconhecimento da dignidade e dos direitos de todos os homens. Por isso, condenam o culto quando desligada da caridade para com o próximo (cf Isaías 58, 6-8).

2.3 Os profetas anunciam um Salvador que há-de vir
Desde Abraão, a Moisés e aos Profetas, a história de Israel está orientada pelas Promessas de Deus. Deus prometera a Abraão uma terra, a bênção e posteridade. Talvez nalguns períodos estas promessas tenham sido entendidas de um modo muito material. A terra prometida seria apenas o território geográfico de Canaan? A posteridade limitar-se-ia à descendência de sangue? A bênção consistiria unicamente na protecção contra os inimigos?
Os profetas ajudam a purificar e a espiritualizar a compreensão das promessas de Deus. A terra prometida é o reino de Deus, um mundo onde haja paz, onde Deus esteja presente e os homens sejam irmãos. A bênção orienta-se sobretudo a uma nova presença de Deus no meio do povo, a uma Aliança mais interior (gravada no coração) e a uma geração que será formada pelos crentes entre todos os povos.
As promessas de Deus começam a concretizar-se na espera de um personagem misterioso que virá trazer a Salvação. Esse personagem é chamado o «Messias», que em português significa «Ungido». Ele terá realmente a plenitude da «unção» ou «consagração», que lhe confere a plenitude do Espírito e inaugurará uma nova relação entre Deus e os homens, e dos homens entre si (Ler Isaías 11:1-9).
Assim os profetas não fazem só apelo à Aliança do passado mas orientam as pessoas para um acontecimento futuro que há-de transformar o curso da história humana. Rasgam, portanto, horizontes novos quando tudo parece perdido, e animam a esperança em épocas de crise (como aconteceu no período do exílio).
Este Messias esperado é descrito umas vezes como um grande rei, outras como o servo humilde que dá a vida em redenção dos pecados do povo (Ler Isaías 53:2-8). Assim compreendemos que o povo de Israel tenha formulado, acerca do Messias, ideias diferentes, umas vezes entendendo-o como uma figura política, outras vezes como uma figura espiritual.

3. PARTICIPAMOS DA MISSÃO PROFÉTICA

3.1. Jesus Cristo e a Igreja continuam a missão dos profetas

Os profetas de Israel terminaram. No século I as autoridades judaicas consideraram encerrada a formação da Bíblia. Terá terminado também a profecia como missão confiada por Deus aos homens?
O Novo Testamento (Evangelho e cartas) afirma o contrário: contrário: Depois dos profetas do Antigo Testamento veio o «profeta por excelência» em que a profecia alcançou a plenitude: «Tendo Deus falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e de muitas maneiras, pelos Profetas, nestes tempos, que são só últimos, falou-nos por Seu próprio Filho» (Hebreus 1:1-2; cf. Actos 2:21-23). Jesus é entendido como continuação e realização perfeita dos profetas. Aos olhos do povo que O escutavam Ele era considerado um grande profeta: como os profetas Ele tem uma profunda intimidade com Deus; apoiando-se e comentando o Antigo Testamento dá-lhe porém uma interpretação nova; fala com autoridade e liberdade ainda maiores que os profetas.
Jesus Cristo aceita o título de profeta e entende-se a Ele mesmo como o profeta definitivo: «ouvistes que foi dito: eu porém digo-vos».
Ao terminar a existência terrena Jesus confia à Igreja a tarefa de continuar a sua missão profética. Todo o povo de Deus da Nova Aliança, todos os membros da Igreja de Jesus Cristo, participam hoje da função profética (cf. 1 Pedro 2:9). Realiza-se assim um anseio expresso por Moisés: «Quem dera que todos os membros do Povo de Deus fossem profetas e que O Senhor fizesse poisar o Seu Espírito sobre eles» (Números 1:24-30). Embora alguns cristãos recebam maiores dons do espírito para esta tarefa e possam exercer a profecia de modo mais pleno, no entanto, todos são chamados a testemunhar a fé tanto pela exemplaridade de vida cristã como pela proclamação da Palavra de Deus.

3.2. Escutar a Palavra de Deus e deixar-se transformar por ela
Deus fala, não é mudo, dirige-se aos homens, não se fecha em si mesmo. Este é um dado constante da revelação judaico-cristã. O grande meio de que se serve para entrar em comunicação connosco é a palavra humana dos intermediários que chama a esta missão.
Assim, a Palavra de Deus chega até nós através da palavra humana dos intermediários que apresentam garantias de credibilidade do chamamento a esta missão. Escutar a Palavra de Deus através das palavras humanas permanece sempre a grande fonte de fé.
A Palavra de Deus apresenta uma novidade constante em resposta às circunstâncias de cada época. Tendo a sua norma na Sagrada Escritura, situando-se em continuidade com a Revelação das origens, é, no entanto, uma iluminação de cada época presente e dos problemas reais dos homens.
Verificamos, assim, a importância de escutar assiduamente a Palavra de Deus, e a meditar no coração para atingir o seu sentido profundo e sempre novo, de a traduzir em obras para alcançar a sabedoria: «Quem escuta as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha» (Mateus 7:24). Depois de escutar, meditar e praticar a Palavra de Deus, podem então os cristãos testemunhar o Evangelho no mundo.
M. Pelino - A. Marto

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