1. ESPERANÇA DE SALVAÇÃO
O Natal é uma festa com um significado humano muito rico a que as pessoas dão muita importância. Que significa o Natal para o comum das Pessoas?
Estes valores humanos revelam expectativas profundas de todas as pessoas.
Então porque não fazer Natal todos os dias, ou seja, porque não viver permanentemente estes valores?
Os homens desejam e procuram a salvação. O desejo de amor, de paz, de luz, de encontro, mostra a esperança de salvação. Por outro lado, as pessoas mostram-se incapazes de alcançar a salvação pelos seus próprios meios. Precisam de um salvador que as venha libertar dos seus impedimentos frutos do pecado.
Esta é a constatação e a esperança que percorre o Antigo Testamento, como temos vindo a reflectir.
Esse período da história da Salvação é atravessado pela expectativa da intervenção de Deus que há-de, no futuro, ajudar os homens a encontrar caminhos de paz, de fraternidade. Deus promete, através dos patriarcas e dos profetas, que há-de enviar o Seu Ungido a trazer a Paz e a salvação a todos os homens.
2. JESUS CRISTO REALIZA AS PROMESSAS DO ANTIGO TESTAMENTO
2.1 A vinda de Jesus realiza as profecias do Antigo Testamento
O Antigo Testamento aparece como um movimento de esperança orientado para um acontecimento que há-de transformar os homens e o mundo. Este acontecimento concretiza-se na vinda de um personagem misterioso que há-de surgir da humanidade mais simultaneamente vem de Deus. Como diz Isaías: «Desça o orvalho do alto dos céus e as nuvens chovam o Justo. Abra-se a terra e germine o Salvador» (Is 45:8).
Encontramos muitas profecias do antigo Testamento que se referem a este enviado de Deus que há-de trazer a salvação aos homens. Podemos lembrar duas: Daniel 7:13-14 e Ezequiel 34:11-16; em Daniel vemos a descrição surpreendente dum personagem que vem de Deus, embora semelhante a um ser humano, para realizar o reino eterno e universal. Em Ezequiel é a promessa de que o próprio Deus virá em pessoa cuidar do seu povo, como um pastor cuida do rebanho.
É Jesus Cristo quem realiza estas promessas do Antigo Testamento. A Sua vinda constitui esse acontecimento que marca a história dos homens.
O nascimento de Jesus Cristo veio realmente inaugurar uma nova época. Ele tornou-se membro da humanidade, inseriu-se na nossa vida, caminha connosco. O seu nascimento marcou de tal modo a história que se tornou o seu centro. Nós contamos, na verdade, o tempo a partir do nascimento de Jesus. Quando dizemos 1950 queremos indicar que Jesus nasceu há tantos anos. A história divide-se em «Antes de Cristo» e «Depois de Cristo».
2.2 Jesus Cristo vem na plenitude dos tempos
A vinda de Jesus realiza-se, assim, depois de um longo período de espera e preparação. Ele é, na verdade, o Desejado das nações, o Messias esperado no Antigo Testamento, o Salvador anunciado e preparado pelos Profetas. A história da Salvação, iniciada com Abraão, orienta-se para Jesus. As diversas etapas do Antigo Testamento (revelação a Abraão; Êxodo; aliança do Sinai; instalação em Canaan; exílio e regresso) preparam a vinda de Jesus.
Deste modo podemos compreender muitas expressões do Novo Testamento que se referem à plenitude dos tempos, como por exemplo: «Ao chegar a plenitude dos tempos Deus enviou o Seu filho, nascido da mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei» (Gal 4:4-5).
Que significa plenitude da Lei? Refere-se às etapas de preparação percorridas no Antigo Testamento. Jesus veio na plenitude dos tempos e trouxe a plenitude da graça e da verdade, (Jo 1:14) ultrapassando o período da Lei (Antigo Testamento): «A Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo» (Jo 1:17). Com Ele tornou-se definitiva a Revelação (Heb 11:1).
Ao inserir-se na história humana, ao fazer-se homem com nós, Jesus Cristo transformou realmente a condição humana, iluminando os homens com a Sua luz divina, oferecendo-nos a Sua própria Vida, tornando-se o Caminho, a Verdade e a Vida. «Da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça» (Jo 1:16).
2.3 Jesus Cristo vem trazer-nos a salvação de Deus.
As expectativas de salvação, que analisamos no início do encontro, ajudam-nos a compreender o significado de Jesus Cristo para todos os homens: Ele vem trazer a Luz e a Vida, a Paz e o Amor. Ele pode, portanto, tornar possíveis as expectativas que vêm ao de cima na quadra natalícia. Ele pode dar corpo e realização ao sonho de um mundo novo de Paz e de Amor. Assim compreendemos a mensagem de Natal dada pelos anjos aos pastores de Belém: «Anuncio-vos uma grande alegria que o será para todos o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador que é Messias Senhor» (Lc 2:10-11).
2.4 Jesus Cristo torna Deus presente entre nós.
Jesus Cristo não vem apenas dar resposta aos nossos anseios humanos. A salvação que Ele nos oferece ultrapassa as nossas expectativas. Os caminhos de salvação que Ele nos propõe fogem aos nossos esquemas; o Seu nascimento e a Sua vida constituem para nós um mistério, representam uma novidade em relação a tudo o que podíamos prever.
Como se explica que Jesus traga assim uma tal riqueza e novidade à história humana? Explica-se pela sua condição: «N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens… O Verbo era a luz verdadeira» (Jo 1:4). Jesus era de condição divina: «Deus enviou o Seu Filho». Por isso, tinha a plenitude da perfeição.
No entanto apresentou-se como homem humilde, simples e pobre. «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória, glória que lhe vem do Pai como Filho único».
Este mistério de Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus como o Pai, que veio até nós em figura humana, é o acontecimento que celebramos no Natal. Ele desceu até nós para caminhar connosco e nos elevar até Deus. Fez-se pobre para nos enriquecer (2 Cor 8:9). Fez-se homem para dignificar a humanidade e aproximar-nos de Deus (Ler Jo 1:16-18).
É portanto, em Jesus Cristo que a história encontra sentido e dignidade. Assim, a nossa preocupação deve ser a de restaurar tudo em Cristo: «reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas que há no céu e na terra» (Ef 1:10). Ele é o Alfa e o Ómega, o princípio e fim de toda a história. (Cf Ap 22:12-13).
3. CELEBRAÇÃO LITÚRGICA DO NATAL
3.1 O Natal é preparado pelo Advento
A celebração do nascimento de Jesus no Natal é precedida de um tempo litúrgico em que se revive a esperança e a preparação do Antigo Testamento para a vinda de Jesus. É o tempo do Advento, constituído por quatro semanas. Esta quadra do Advento procura despertar em nós o desejo da vinda de Jesus e preparar o nosso coração para O escolher. Apresenta-nos algumas figuras do Antigo Testamento que nos convidam e ajudam a preparar a vinda de Jesus. Ocupa um lugar de relevo o profeta Isaías que nos anima na esperança «não temais; aí vem o vosso Deus». Aparece, também, João Baptista que nos desafia a preparar os caminhos que levam a Deus. Em terceiro lugar, aparece aquela que colaborou mais de perto na vinda de Jesus: Nossa Senhora.
3.2 O mistério do Natal narrado nos evangelhos
O Nascimento de Jesus não é apenas um acontecimento social. É o Mistério da presença de Deus em forma humana. É a realização do desígnio de Deus de salvar a humanidade. Por isso, a narração deste acontecimento nos evangelhos é muito rica e diferente em cada evangelista. Cada um colhe o Mistério numa perspectiva própria. No conjunto, enriquecem-se umas às outras. Vimos a perspectiva de São Paulo (Carta aos Gálatas e Carta aos Filipenses) e outra, mais teológica, de São João.
A narração mais sugestiva e mais movimentada, e talvez também a mais conhecida, é a de São Lucas. Este evangelista dedicou um relevo especial à infância de Jesus e, por isso, o denominamos «Evangelista da infância». Os diversos acontecimentos que São Lucas narra sobre a infância de Jesus foram resumidos pela piedade cristã em cinco mistérios (cinco episódios em que se manifesta o mistério de Jesus já presente na infância): anunciação; visitação; nascimento; apresentação; perda e encontro de Jesus no templo.
Nas várias e diferentes narrações encontramos sempre referência a duas dimensões do mistério de Jesus: descendência da humanidade e proveniência divina.
A. Marto - M. Pelino
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