1. A BÍBLIA: UM LIVRO COM HISTÓRIAS ANTIGAS OU COM MENSAGEM ACTUAL
A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo. Católicos, protestantes e ortodoxos encontram aqui a Palavra de Deus normativa da sua fé. Muitas pessoas, mesmo não crentes, apreciam a riqueza literárias e moral deste livro sagrado.
No entanto, muitos conservam a Bíblia apenas na estante, sempre nova devido á falta de uso. Compraram-na, talvez ainda tentassem lê-la, mas depois desanimaram devido à linguagem difícil e estranha.
Ao longo das catequeses que temos vindo a fazer procurámos contactar de perto com este livro maravilhoso.
Que frutos colhemos deste contacto? No teu meio a Bíblia tem significado e interesse para os católicos? Em que o notas? Qual a razão?
Certamente não é um livro muito fácil. Narra o desígnio misterioso de Deus de salvar os homens e nem sempre a linguagem comum é adequada para exprimir estas realidades da fé. Daí o emprego frequente de imagens e símbolos por vezes estranhos à nossa mentalidade.
Por outro lado, narra acontecimentos da história da Salvação decorridos em épocas e culturas muito diferentes das nossas. No tempo de Abraão, de Moisés ou de Isaías a maneira de pensar, de viver e de se exprimir era muito diversa da nossa. Assim torna-se necessária uma preparação própria para entender a Sagrada escritura.
Os comentários ou explicações que temos feito nestes encontros contribuíram para uma melhor compreensão da Bíblia? Que aspectos novos descobrimos?
Neste momento conhecemos já bastantes acontecimentos e personagens da Sagrada escritura. É, portanto, a altura própria para procurarmos alcançar uma visão de conjunto da Bíblia de modo a compreendermos melhor os seus géneros literários e a podermos situar no contexto próprio cada um dos seus livros.
Neste sentido, vamos dedicar os próximos encontros a um estudo mais profundo da Bíblia. Para podermos acompanhar melhor esta reflexão devemos ler em casa a introdução que vem no início da Bíblia e trazê-la sempre connosco para os encontros.
2. A BÍBLIA MENSAGEM DE DEUS AOS HOMENS
2.1. A Bíblia narra a Aliança entre Deus e os homens
A Bíblia conta a história da Aliança entre Deus e os homens. A aliança é a realidade de fundo de toda a Bíblia que se desenvolve e aperfeiçoa continuamente até Jesus Cristo. Assim a Bíblia apresenta-se em duas grandes partes: A antiga Aliança e a nova Aliança (também se diz «Testamento» para indicar que é a disposição definitiva de Deus a respeito dos homens).
A Bíblia narra a iniciativa ou disposição da parte de Deus de estabelecer com os homens um relacionamento de amizade mútua. É o que significa Aliança ou Testamento. Tendo criado o homem para viver em comunhão com Ele, Deus dotou-o de liberdade permitindo-lhe aceitar ou recusar este destino. Quando o homem, pelo pecado, se afasta da comunhão com Deus. Este não o abandona mas vai ao seu encontro chamando-o de novo à amizade com Ele. É a história da Aliança.
Ao longo das catequeses reflectimos já nalgumas etapas da Aliança: com Abraão a que, Deus promete a bênção, um país e uma numerosa descendência; com Moisés a quem Deus chama a libertar o povo do Egipto estabelecendo depois, por seu intermédio, um tratado de protecção a Israel, indicando ao povo um estilo de vida (a lei da Aliança); com os profetas interiorizando a Aliança e prometendo uma nova Aliança. Finalmente através de Jesus Cristo que realizou a promessa da nova e eterna Aliança.
Podemos acompanhar este desenvolvimento da Aliança ao longo da Bíblia consultando algumas passagens significativas:
Abraão (Gn 15:1-6; 18)
Moisés (Ex 19:1-8)
Jeremias (Jer 31:31-34)
Jesus Cristo (Mt 26:26-29)
2.2 A Palavra de Deus em palavra humana
A palavra Bíblia significa «livros». Realmente, a Bíblia é uma colecção de livros, escritos em épocas diferentes e em estilos diversos. Ao todo 73 livros (46 do Antigo e 27 do Novo Testamento).
Já abordámos algumas das épocas da história da Salvação narrada nos diferentes livros da Bíblia: Patriarcas; Êxodo; posse da Terra Prometida; Juízes; Reis; desterro; regresso a Jerusalém e época do Judaísmo.
Tendo em conta os diferentes géneros literários, podemos agrupar os livros do Antigo Testamento em três secções: Históricos; Sapienciais ou Didácticos e Proféticos.
Vamos analisar cada uma destas secções:
A – Livros históricos
Apresentam uma visão teológica da história, discernindo o projecto de Salvação de Deus na história de Israel. Na fidelidade ou no pecado do povo, Deus intervém encaminhando a história para Salvação (Ler Juízes 2:11-19).
Esta secção engloba o Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia atribuídos a Moisés) e outros dezasseis livros que narram a história do povo israelita.
O Pentateuco ou livro da «Lei» (em aramaico TORAH) é o mais importante desta secção. Frequentemente, aparece o convite a meditá-lo: «Quanto amo Senhor a vossa Lei, nela medito durante todo o dia». (Salmo 119:97). «Nela meditarás quer estando sentado em casa, quer andando pelos caminhos, quando te deitas e quando te levantas» (Dt 6:7).
B – Livros Sapienciais
São sete livros que exprimem a sabedoria do povo que se conduz pelos caminhos de Deus. Estão redigidos em forma de provérbios, hinos, cânticos e orações.
O livro mais conhecido desta secção é o dos Salmos que contém 150 orações de uma grande riqueza espiritual. Manifestam uma profunda experiência de fé que se mantém actual e paradigmática em todos os tempos. Apresentam-se em forma de louvor (Sl 103; ou de arrependimento (Sl 50); de súplica (Sl 86); ou de acção de graças (Sl 100).
C – Livros Proféticos
São compostos por escritos dos profetas. Estes são conhecidos por profetas maiores – aqueles cujos escritos são mais extensos: Isáias, Jeremias, Ezequiel e Daniel – e profetas menores, cujos escritos são menos extensos, em número de catorze.
3. PALAVRA DE DEUS VIVA E ACTUAL
Os livros do Antigo Testamento foram escritos pouco ao longo de 10 séculos aproximadamente. Inicialmente, a história e as leis do Povo de Israel passavam de boca em boca – era a transmissão ou tradição oral. No reino de Salomão, com o desenvolvimento da literatura, começaram a redigir-se as tradições orais. Assim se compreende a grande variedade de géneros literários existentes na Bíblia desde: história; leis; crónicas; poesia; cânticos; provérbios; e até novelas com significado teológico (por exemplo a vida de Jonas)
No entanto, a Bíblia no Antigo Testamento não narra apenas a história passada do povo israelita. Por detrás dos acontecimentos históricos apresenta-nos a interpretação do desígnio de Deus. É a história da Salvação que se realiza na história do povo eleito. A Bíblia apresenta-nos realmente a Palavra de Deus revestida em géneros literários diferentes, em palavra humana de cada época.
Assim o conhecimento do contexto histórico é importante para compreender o sentido de cada livro. Mas não é suficiente. A partir do contexto histórico devemos depois aplicar ao presente ara descobrir a Palavra de Deus sempre viva e actual.
A. Marto - M. Pelino
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