quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Nono encontro: Deus manifesta-se através de sinais

1. DEUS REVELADO E ESCONDIDO

No encontro anterior verificámos a humildade e discrição do nascimento de Jesus. As pessoas importantes do seu país não tomam conhecimento do facto. São os pobres, como os pastores, que O vão visitar.
Ainda hoje Jesus é ignorado por muita gente. Mesmo na celebração do Seu nascimento, pelo Natal, Jesus parece ausente ou então motivo de segunda importância para as festas sociais e para as prendas.
Este facto coloca-nos uma questão: Deus mostra-se às pessoas, dá-se a conhecer, ou permanece oculto? Manifesta-se de modo visível ou é um Deus escondido? Como se apresenta?
A nossa época valoriza muito os meios «audiovisuais» – o que se vê, o que se apregoa. Os conhecimentos baseiam-se no que se observa e no que se experimenta. Ora Deus é invisível e transcendente.
Haverá sinais visíveis que O manifestam? Haverá «pegadas» da presença de Deus?
Neste encontro vamos reflectir na resposta da Sagrada Escritura, sobretudo do Novo testamento, a esta questão. Tendo em conta os sinais de Deus referidos na Sagrada escritura podemos descobrir também o modo como Deus se manifesta hoje s nossos olhos.

2. JESUS MANIFESTA-SE ATRAVÉS DE SINAIS

2.1. Jesus manifesta-se de modo discreto

O tempo da epifania, que celebramos logo após o Natal, ajuda-nos a esclarecer esta questão. «Epifania» quer dizer «manifestação». Jesus realmente não quis permanecer ignorado: deu-se a conhecer. Tendo nascido pobre e escondido Ele manifestou-se: - aos pastores, através dos anjos que lhes deram um sinal de identificação (Lc 2, 12). - aos magos, através de um sinal no Universo (um astro que lhes anunciou o nascimento de Jesus). - aos Judeus, no Baptismo e na vida pública, mostrando que vinha realizar as profecias. - aos discípulos, em Cana de Galileia e outras ocasiões, realizando sinais que O acreditam como Messias.
Concluímos pois: Jesus nasce pobre e escondido mas dá-se a conhecer, manifestando-se através de sinais, diferentes conforme a sensibilidade, as expectativas e a situação espiritual das pessoas a quem de destinam.
Mas esta manifestação de Jesus não é triunfal: é directa e humilde. Não se impõem mas pede uma resposta livre. Por isso, muitos não O conheceram.

2.2. Jesus manifesta-se de modo adaptado aos destinatários
Procuremos, no modo como Jesus se manifestou, esclarecer como Deus se dá a conhecer ainda hoje. Analisemos de perto três etapas da manifestação (ou Epifania) de Jesus:
a) Aos Magos, Jesus dá-se a conhecer por um astro do firmamento. É hoje aceite por astrólogos e estudiosos de renome que o episódio da estrela de Belém tem um fundamento científico. De facto, segundo os cálculos do célebre astrólogo Kepler, hoje confirmados, por altura do nascimento de Cristo sucedeu um fenómeno astral muito significativo e visível em todo o Mediterrâneo: a conjugação do planeta Júpiter (o astro dos dominadores do mundo) com o Saturno (o planeta protector de Israel) na constelação dos Peixes (o signo dos «tempos finais» ou da era messiânica). A interpretação deste fenómeno astral orientava para o anúncio do nascimento do Messias que devia chegar de Israel.
b) Ao povo de Israel, Jesus manifesta-se pelo cumprimento das profecias. É um aspecto muito realçado pelos primeiros evangelizadores – os apóstolos. Eles apresentam Jesus como Messias a partir do cumprimento das profecias (Lc 24, 27). Será ainda hoje válido este argumento?
c) Aos seus discípulos, e também ao povo que n`Ele acredita. Jesus manifesta-se por sinais. As suas acções e o seu estilo são sinais que revelam o mistério da Sua Pessoa.

3. SINAIS DE DEUS ACTUAIS

3.1. Sinais de Deus hoje visíveis

O Deus invisível e transcendente, para se revelar aos homens e mostrar-lhes o significado da Sua presença e do Seu amor salvador, serve-se de sinais acessíveis, adaptados à condição humana. Através deles «faz sina» aos homens de vários modos: através dos caminhos da natureza, da humanidade, dos acontecimentos históricos e pessoais.

a) Sinais objectivos
. Criação do universo: «os céus proclamam a glória de Deus, o firmamento anuncia as obras das Suas mãos» (Salmo 19).
. Jesus Cristo: a vida e o estilo de Jesus são inexplicáveis, ou mesmo impossíveis, sem Deus. Qual o segredo da Sua originalidade e profundidade, da Sua liberdade e serenidade e sobretudo do Seu amor total ao serviço de Deus e dos homens com preferência pelos mais pobres?
A explicação mais credível é a que Ele próprio, e os que n`Ele crêem, apresentam: vem do Pai, está com o Pai, vive e morre para o Pai.
. Sagrada Escritura: Como poderia surgir este livre maravilhoso com um conteúdo tão elevado sem a intervenção (inspiração) de Deus? Como explicar tantas afirmações, hoje tidas como património universal, mas afirmações, hoje tidas como património universal, mas provenientes da Bíblia e revolucionárias na época e no contexto em que surgiram, tais como: o monoteísmo face ao politeísmo do mundo antigo: o universo criado com ordem e beleza e orientado à perfeição final: a dignidade e responsabilidade de cada homem e de cada mulher face ao determinismo, ao racismo e escravatura das antigas civilizações; a visão ética fundamentada na justiça e na liberdade face aos interesses egoístas, à opressão dos poderosos e à lei do mais forte então vigentes; as profecias do Antigo Testamento realizadas no Novo, como vimos atrás?
. Igreja Católica : Também esta instituição antiga, porventura a mais antiga da humanidade, formada por homens pecadores, não poderia subsistir durante dois milénios, apesar de tantas perseguições do exterior e de tantas divisões de seitas no seu interior, sem a força divina em que acredita estar fundada. A fidelidade firme que conserva às origens, a capacidade de renovação que mostra face às mudanças das civilizações, os frutos que gera de caridade e santidade, de serviço ao homem e conversão pessoal são inexplicáveis sem Deus. A mensagem de Salvação que propõe e na qual acredita, e o compromisso com a transformação do mundo e da humanidade que mostra, são sinais de que continua a missão de Jesus.
. Testemunho de santidade dos cristãos. A vida de muitos cristãos, transformada pela graça, manifesta também a presença de Deus. Assim o confessava um filósofo convertido: «Os encontros (com os cristãos) tiveram uma função capital na minha vida… conheci pessoas nas quais senti a realidade de Cristo de modo tão vivo que não me foi permitido duvidar» (Gabriel Marcel).

b) Sinais na vida de cada um. Santo Agostinho, depois de convertido, recorda a vida passada e reconhece o rosto, suave mas perceptível, da presença de Deus. Um dia, ainda desorientado no pecado, sentiu um convite interior misterioso «toma e lê». Pegou o Novo Testamento e leu as palavras que foram a chicotada decisiva: «Não vos deixeis conduzir pela carne e pelas suas concupiscências».
Confessa depois: «Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova. Tarde Vos amei! Vós estáveis dentro de mim mas eu estava fora, e fora de mim Vos procurava; com o meu espírito deformado, precipitava-me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Clamastes, chamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandescestes e dissipastes a minha cegueira…» Só depois da conversão este santo encontrou a paz do coração que debalde tinha procurado nos afectos terrenos, e concluiu: «Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não tem paz enquanto não repousa em Ti».

3.2. Deus dá-se a conhecer a quem O procura
Deus manifesta-se de modo discreto e humilde e não de modo triunfal. Não apresenta provas evidentes mas oferece sinais. Os sinais são visíveis, orientam e indicam o caminho mas não provam. A fé é sempre uma decisão livre. Como dizia Blaise Pascal: «Há suficiente luz para quem quiser acreditar e há suficiente escuridão para quem não quer crer». Na verdade, quem acredita encontra sempre razões suficientes para acreditar. E quem não acredita também encontra razões para justificar a incredulidade.
Assim Deus permanece um mistério escondido, que procuramos às apalpadelas, e ao mesmo tempo dá-se a conhecer por sinais. Na medida em que procuramos a Sua face Ele dá-se a conhecer: «O Senhor está convosco, assim como vós estais com Ele. Se vós O procurardes, encontrá-Lo-eis, mas se vós O abandonardes, Ele abandonar-vos-á» (2 Cron 15:2).
Como afirma Messori: «Só um Deus escondido é que pode instaurar com os homens uma relação de liberdade e não de necessidade».
A. Marto - M. Pelino

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