10. Crise do Império
Ao longo do século III o Império será na maior parte do tempo uma ditadura militar. A instabilidade política foi grande. Os exércitos, formados não por romanos mas principalmente por mercenários, isto é, gente vinda de províncias conquistadas há pouco tempo, põem e depõem os imperadores pelos mais variados motivos: dinheiro, inveja, medo, aversão pela disciplina...
Uma crise económica devastou o Império: explodem guerras civis aqui e ali (onde está a Pax Romana?); as fronteiras são áreas de combate contínuo (primeiras invasões bárbaras); as estradas são quase abandonadas; há escassez de comida; os salteadores formam quadrilhas; o mar fica cheio de piratas; a inflação devora a moeda (medidas desesperadas, como o tabelamento de preços, são tomadas pelo governo); a corrupção é generalizada; a luxúria e a devassidão corroem a família; até mesmo a arte e a literatura perdem o brilho (temos alguns nomes, desconhecidos para a maioria dos nossos contemporâneos: Terêncio Escauro, Suplício Apolinário, Ácron, Censorino, Mário Máximo, Plócio Sacerdote; juristas como Papiniano, Ulpiano e Paulo se destacam; em grego: Díon Cássio, Diógenes Laércio e o maior de todos, Plotino, chefe do neoplatonismo; seu discípulo, Porfírio, escreveu um tratado Contra os Cristãos). Decadência: esta é a palavra que descreve melhor o Imperium nesses tempos.
A astrologia caldeia e o mitraísmo estabelecem-se fortemente: "Se, no seu nascimento, o Cristianismo tivesse sido detido no seu progresso por alguma doença mortal, o mundo teria se convertido aos mistérios de Mitra", disse Renan. E até certo ponto é verdade.
O neoplatonismo é um misto de filosofia e religião que vai se opor frontalmente à fé cristã. Juntamente com o restante do paganismo e todos os sincretismos que possam ser imaginados, estas doutrinas infectavam o Imperium, e só encontravam um obstáculo consistente e sólido: a Igreja.
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